Meus
pais sempre foram loucos por carnaval. Minha mãe principalmente. Em um carnaval
desses, ela havia determinado não participar dessa festa, até receber um telefonema de uma tia minha que é outra foliã de peso da família. Ao desligar o telefone, ela
disse para minha avó:
-Mãe,
vou ali volto já!
Eu
só sei que ela só voltou desse “ali” na quarta-feira de cinzas.
Mas
o carnaval em questão é “mais emocionante”. Nesse, ela já estava casada com o meu
pai e os dois decidiram colocar uma barraca lá no Carmo, exatamente no foco do
carnaval de Olinda. Dois casais tomariam conta dessa barraca, meus pais era um
deles e o outro era Charles e Gal (companheiros de farras). A barraca estava
organizada, tinha comes, bebes e contava também com um atendimento de primeira
qualidade.
Não
é nada fácil tomar conta de uma barraca no carnaval de Olinda. Mesmo quem está
vendendo, acaba aqui ou ali saltitando os passos do frevo e com toda essa
performance, o trabalho se torna mais cansativo do que qualquer outro. O
descanso também era bem administrado entre eles. Eu não sei por qual razão, os
homens foram dormir na mesma hora e deixaram as respectivas esposas no trabalho
pesado. Charles deitou em uma esteira próxima à barraca e meu pai dormiu em uma
Kombi de um amigo nosso que também estava estacionada por perto.
Vendo
que a barraca estava sendo administrada por apenas duas belas jovens, um
camarada que aparentava já ter tomado todas, chegou e ficou olhando para minha
mãe. Prontamente ela o perguntou:
-O
que o senhor deseja?
-Uma
batida.
-Certo!
Dê uma olhadinha no nosso cardápio. Temos batidas de vários sabores.
O
camarada que chegou solitário, demonstrou não estar interessando em batida
alguma, certamente, o objetivo dele era encontrar o famoso amor de carnaval.
Respondeu para minha mãe sem nem ao menos olhar para o cardápio:
-Quero
uma batida que tenha o seu nome!
Nesse
exato momento, Charles acordou e ainda meio sonolento, percebeu o teor da
provocação. Deu um pulo da esteira e gritou:
-Fred, acorda Fred! Olha o engraçadinho cantando tua mulher!
Meu
pai nessa época trabalhava no Banco do Brasil, mas no carnaval de Olinda, nesse
momento,sem pestanejar caracterizou-se de “atirador de bancos”. Ele levantou-se disposto, pegou o primeiro banco que viu pela frente e correu atrás do camarada
para lhe acertar a cabeça. Ainda bem que o homem correu mais rápido e meu pai
não conseguiu alcançá-lo. No outro dia, meu pai chegou à barraca primeiro que
minha mãe. Ela ficou organizando algumas coisas em casa. Preocupado com o assédio que minha
mãe sofrera no dia anterior, ele ficou bastante pensativo na tentativa de buscar uma solução para controlar o assanhamento dos homens. Escreveu
um bilhete e pediu que Charles o entregasse lá em casa. O pedaço de papel
escrito dizia o seguinte: “Keyla: Venha de calça comprida e frouxa!”. Minha mãe,
aproveitou o verso do bilhete e escreveu sua resposta: “Mande o dinheiro para
eu comprar esta fantasia de palhaço!”
Ele ficou abusado! Não
queria mais saber de descanso em Kombi e ficava o tempo todo servindo de
guarda-costas para minha mãe (Kevin Costner perdeu feio para a atuação do meu pai nesse carnaval, em questão segurança). Nunca mais painho repetiu a ousadia de colocar uma
barraca no carnaval de Olinda. Preferiu ficar trabalhando no Banco (do Brasil) a ser atirador de bancos.
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