quarta-feira, 29 de junho de 2016

BANCÁRIO OU ATIRADOR DE BANCOS?



            Meus pais sempre foram loucos por carnaval. Minha mãe principalmente. Em um carnaval desses, ela havia determinado não participar dessa festa, até receber um telefonema de uma tia minha que é outra foliã de peso da família. Ao desligar o telefone, ela disse para minha avó:
            -Mãe, vou ali volto já!
            Eu só sei que ela só voltou desse “ali” na quarta-feira de cinzas.
            Mas o carnaval em questão é “mais emocionante”. Nesse, ela já estava casada com o meu pai e os dois decidiram colocar uma barraca lá no Carmo, exatamente no foco do carnaval de Olinda. Dois casais tomariam conta dessa barraca, meus pais era um deles e o outro era Charles e Gal (companheiros de farras). A barraca estava organizada, tinha comes, bebes e contava também com um atendimento de primeira qualidade.
            Não é nada fácil tomar conta de uma barraca no carnaval de Olinda. Mesmo quem está vendendo, acaba aqui ou ali saltitando os passos do frevo e com toda essa performance, o trabalho se torna mais cansativo do que qualquer outro. O descanso também era bem administrado entre eles. Eu não sei por qual razão, os homens foram dormir na mesma hora e deixaram as respectivas esposas no trabalho pesado. Charles deitou em uma esteira próxima à barraca e meu pai dormiu em uma Kombi de um amigo nosso que também estava estacionada por perto.
            Vendo que a barraca estava sendo administrada por apenas duas belas jovens, um camarada que aparentava já ter tomado todas, chegou e ficou olhando para minha mãe. Prontamente ela o perguntou:
            -O que o senhor deseja?
            -Uma batida.
            -Certo! Dê uma olhadinha no nosso cardápio. Temos batidas de vários sabores.
        O camarada que chegou solitário, demonstrou não estar interessando em batida alguma, certamente, o objetivo dele era encontrar o famoso amor de carnaval. Respondeu para minha mãe sem nem ao menos olhar para o cardápio:
            -Quero uma batida que tenha o seu nome!
            Nesse exato momento, Charles acordou e ainda meio sonolento, percebeu o teor da provocação. Deu um pulo da esteira e gritou:
            -Fred, acorda Fred! Olha o engraçadinho cantando tua mulher!
          Meu pai nessa época trabalhava no Banco do Brasil, mas no carnaval de Olinda, nesse momento,sem pestanejar caracterizou-se de “atirador de bancos”. Ele levantou-se disposto, pegou o primeiro banco que viu pela frente e correu atrás do camarada para lhe acertar a cabeça. Ainda bem que o homem correu mais rápido e meu pai não conseguiu alcançá-lo. No outro dia, meu pai chegou à barraca primeiro que minha mãe. Ela ficou organizando algumas coisas em casa.  Preocupado com o assédio que minha mãe sofrera no dia anterior, ele ficou bastante pensativo na tentativa de buscar uma solução para controlar o assanhamento dos homens. Escreveu um bilhete e pediu que Charles o entregasse lá em casa. O pedaço de papel escrito dizia o seguinte: “Keyla: Venha de calça comprida e frouxa!”. Minha mãe, aproveitou o verso do bilhete e escreveu sua resposta: “Mande o dinheiro para eu comprar esta fantasia de palhaço!”
Ele ficou abusado! Não queria mais saber de descanso em Kombi e ficava o tempo todo servindo de guarda-costas para minha mãe (Kevin Costner perdeu feio para a atuação do meu pai nesse carnaval, em questão segurança). Nunca mais painho repetiu a ousadia de colocar uma barraca no carnaval de Olinda. Preferiu ficar trabalhando no Banco (do Brasil) a ser atirador de bancos. 

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