Eu passava
por um momento financeiro e emocional bem difícil. Resolvi mudar de casa, achei
que esta atitude iria me fazer bem, precisava de uma mudança também de ares.
Quando o caminhão da mudança foi embora, eu estava completamente perdida
naquela bagunça interna e externa. Sabendo que eu estava passando por este
processo, uma grande amiga, chamada Regina, me ligou:
-Se
te conheço bem, sou capaz de apostar que você está quase louca com tanta
desordem, não teve como preparar seu almoço e nesse exato momento está com um
pacote de biscoito e uma latinha de refrigerante, julgando que isso será sua
refeição, correto?
-Tenho
que admitir que você ganhou essa aposta.
-Estou
largando do trabalho agora, vem andando. Você vai almoçar comigo.
-Graças
te dou!
Entre
as nossas casas, ficava o trabalho dela. Cheguei lá e fiquei no portão
esperando, quando ela vinha ao meu encontro, um homem a fez recuar. Ele
conversava com ela e olhava para mim, por repetidas vezes. Quando finalmente
Regina conseguiu livrar-se do homem, ela estava com um sorriso estampado no
rosto. Desconfiei...
Começou
a argumentar:
-Você
não sabe...
-Sei
sim. Aquele homem mandou algum recado para mim.
-Nunca
vi uma criatura com o sexto sentido tão aguçado como você! Parece que lê os
pensamentos das pessoas, às vezes tenho medo de você sabia?!
-Ahhhhh,
pra cima de mim, Regina? Eu não leio pensamentos, leio olhares. Eu sei o que
ele quer.
-Sabe
quem é ele?
-Não,
mas deve ser algum grandalhão daí, acredito que seja o teu chefe.
-Como
sabe?
-Sexto
sentido aguçado.
-Sim,
ele é meu chefe, o cara nada no dinheiro. Quer saber o melhor? Não demonstra
isso, é um cidadão muito humilde, que ajuda a todos. Tem um coração grandioso,
assim como o seu. As qualidades de vocês são tão iguais...
-Sim,
dona Cupido, já sei o que você quer também.
-O
quê?
-Quer me entregar o número do telefone dele.
-Dessa
vez você quase acertou. Ele realmente pediu para que eu fizesse isso, mas como
te conheço bem, justifiquei o seguinte:
-Vá com calma, doutor! Ela é diferente, muito
diferente das mulheres que o senhor já conheceu na vida.
-Você está me deixando confuso. O que está querendo me dizer com isso, Regina?
-Que
não vou entregar o número do seu telefone porque sei que ela não vai ligar. Sei
também que as mulheres se jogam para cima do senhor e, vamos concordar que
todo esse dinheirão, é um forte aliado para tamanho assédio, não é mesmo?
-Você
está certa! O meu dinheiro me atrapalha nas relações, quando escuto um “eu te
amo” desconfio. Esta expressão aparece com muita abundância em minha vida e o
amor é o sentimento mais complicado em questão de provas.
-Por
estar certa, sei que ela não vai ligar. Sabe o que aconteceu recentemente? O
prefeito desta cidade, pagou uma quantia relativamente alta, para descobrir
apenas o número do telefone dessa moça. Depois,
o próprio amigo que recebeu esse dinheirão para repassar essa informação, comentou isso com ela. Na mesma
hora a danada trocou o chip do celular. O prefeito mandou inúmeros recados,
prometeu viagens, casa própria, quantias altíssimas. Ela não deu a mínima. Sei
que o senhor tem muito mais dinheiro que o prefeito, mas ninguém a compra.
Quer mais um detalhe? Ela passa por situação financeira muito difícil. Mesmo
assim, ela recusou o assédio do prefeito.
-Preciso
conhecer esta mulher. Ela tem um mistério encantador, é realmente diferente das
outras que conheci. Já que você está me garantindo que ela não vai me ligar, me
dê o número dela, por favor.
-Quer
que a coitada troque o chip do telefone novamente?
-Não!
Fale apenas que eu a ligarei hoje à tarde, caso ela não queira falar comigo,
respeitarei e não voltarei a ligar.
Regina
deu o número do meu telefone. Depois disso, passou umas duas horas falando as
qualidades do camarada para mim. Realmente, o relato me deixou curiosa, mas
mesmo assim, eu tinha lá minhas dúvidas, afinal, ele era o chefe dela...
Como
prometido, à tarde ele me ligou, atendi:
-Boa
tarde, doutor Maciel!
-Como
sabe que sou eu? Você não tem o número do meu telefone!
-Mas
conheço o número de todos os meus amigos, esse telefone estranho te denunciou.
-Eu
não posso negar que fiquei encantado quando te vi, mas confesso, o que mais me
encantou foi o que Regina falou sobre você. É tudo verdade mesmo, ou ela está
apenas querendo arrumar uma namorada para mim?
-Não sei o que ela falou sobre mim, mas deve
ser verdade, nunca a peguei na mentira. E acredito que Regina não está apenas
querendo arrumar uma namorada para você. Quer fazer de mim a sua namorada.
Olha, talvez você pense que eu estou te dando um fora, mas não posso conversar
contigo agora, estou trabalhando.
-Tudo
bem! Posso te ligar à noite?
-Pode.
Nesta
mesma tarde, ele me enviou três mensagens e à noite cumpriu sua promessa,
ligando para mim. Ele tinha um papo muito interessante, era muito inteligente e
confesso que gostava de ouvir o que ele falava. Eu tinha vinte e poucos anos, ele, quarenta e tantos. Passamos um bom tempo nesse lance de ficar conversando por telefone e
mensagens. Todos os dias, Regina vinha com novidades sobre ele e sempre
ressaltava:
-O
homem está doido por você!
-Dizem
que a desgraça de um doido é outro doido na porta, né?! Vamos ver no que vai dar
tanta loucura junta.
Mas
ele tinha muita cautela comigo porque Regina sempre o alertava quanto ao meu
modo de agir e pensar. Tinha o cuidado de me ligar com muita frequência e um
dia, depois de um longo papo, foi bem imperativo:
-Preciso
te conhecer pessoalmente, não aguento mais!
-Defina
pra mim esse “não aguento mais”.
-Eu
não posso definir. Se eu fizer isso você corre de mim.
-Veja
bem, se o “não aguento mais” for um desejo avassalador de me agarrar ao me ver,
esqueça. Ainda tenho você como um amigo.
-Mas
eu não tenho você como amiga, nunca tive.
-É
justamente aí onde mora o perigo. É melhor não me conhecer pessoalmente, poderá
decepcionar-se comigo. Não responderei às suas expectativas e isso poderá te
frustrar. Acho que não é o momento certo para este encontro acontecer.
-Não
posso ficar conversando com você somente por telefone. Vamos combinar uma
coisa? É preciso que você confie em mim, venha para minha casa. Mandarei meu
motorista te buscar.
-Pra
sua casa? Mas não vou mesmo!
-Eu
sabia que você iria me responder isso. Não farei nada que você não queira. Do
mesmo jeito que meu motorista irá te buscar, farei te levar caso eu ultrapasse
qualquer barreira sua, ok?! Confie em mim, não te decepcionarei. Diga que vem,
por favor.
-Tudo
bem, Maciel, você me convenceu.
Algumas
cidades nos separavam. O motorista foi me buscar e durante a viagem me preparou:
-Você
vai gostar do doutor Maciel e nem pense que o que falo agora foi ordenado por ele.
Ele é um cara bom e seu nome, moça, é mel na boca dele.
Lá
chegando, tinha um churrasco me esperando. A casa dele era muito bela, me vi
perdida naquela grandiosa construção. Me tratou com muita dignidade, passamos a
tarde inteira no terraço, apenas conversando. A distância foi respeitada mesmo!
Ele me impressionava com suas atitudes. Eu gostava dele, mas tinha certeza que o seu
sentimento por mim era muito maior que o meu simples gostar. Me convidou para
jantar, eu recusei. Geralmente os jantares andam de mãos dadas com o
romantismo, pensei nisso e para evitar decepções, pedi que me levasse para
casa.
-Durma
aqui!
-Não!
-Só
farei o que você permitir, já te prometi isso.
-Não,
o dia foi maravilhoso ao teu lado, pode acreditar nisso, mas eu quero ir
embora.
Ele
dispensou o motorista e foi me levar.
O tempo foi passando e as conversas ao telefone passaram
a ser cada vez mais demoradas. Um novo convite para ir à casa dele surgiu. Eu
queria ir, mas fiquei preocupada:
-Olhe, da última vez que fui, você queria que eu dormisse
aí, sei que este pedido será feito novamente e para não haver decepções,
absorva de antemão que não vou dormir com você.
-Eu já pensei nisso, moça! Já te conheço, não ficaremos
a sós. Dessa vez, quero que você venha para que um casal amigo meu te conheça.
Falo tanto sobre você que a curiosidade deles está me incomodando. Gostaria que
vissem com os próprios olhos que não minto quando falo sobre você. Poderá vir
sem medo, embora eu tenha vontade de avançar todos os teus sinais, me
comportarei.
-Sendo assim, tudo bem.
Novamente, o motorista veio me buscar. Ele não mentiu,
realmente o casal estava lá. Quando cheguei, ele estava bebendo, perguntou se
eu queria, recusei. Depois de um longo papo ele sugeriu:
-Vamos tomar um banho de mar?
-Eu não trouxe biquíni.
-Isto não é um problema. Compraremos um para você.
-Não precisa. Se você quer tomar um banho de mar, eu te
acompanho até à praia e fico na areia te observando, mas não vou entrar na
água.
-Menina, você é muito esperta. Sei que não é novidade,
por isso falo com naturalidade: Tenho um desejo muito grande por você, minha
vontade é verdadeiramente te ter em meus braços, mas continuo firme na palavra.
Nada farei se você não quiser que seja feito.
Fomos à praia, ele tomou banho de mar com o amigo dele e
eu fiquei conversando com a esposa desse amigo na areia. Por diversas vezes ele
sinalizou me chamando para entrar no mar, neguei todas. Quando ele saiu me
perguntou:
-Por que não entrou quando te chamei?
-E depois eu vestiria que roupa?
-É, realmente eu não tenho roupas femininas lá em casa, mas isso não é um problema, te compraria algumas.
Voltamos os quatro para a casa dele. Maciel disse que me levaria para minha casa quando eu quisesse ir. A bebedeira continuou e depois veio a minha preocupação: “E
agora? Ele bebeu o dia inteiro e eu não vou ter coragem de voltar para casa com
ele dirigindo”. O casal amigo foi embora, e ficamos somente com dois empregados
que cuidavam da casa. Eu decidi dormir lá. A notícia que eu passaria a noite por lá foi animadora. Com o anoitecer, o tempo esfriou, saímos do terraço, fomos para a sala e cada um deitou em
um sofá. Ficamos a filosofar a vida. Volta e meia, ele iniciava um papo
romântico e eu quebrava a linha de raciocínio dele. Quase meia-noite, acabada
de cansaço, eu adormeci no sofá. Senti um leve pouso da boca dele na minha,
acordei assustada.
-Desculpa! Eu não resisti. Na verdade eu não queria te
acordar, desejei apenas chegar um pouco mais perto de você. Não foi nem um
beijo, foi apenas um toque, não precisa ficar brava comigo.
-Não repita isso!
-Tudo bem, será difícil, mas eu tentarei. Menina, sei que
você está cansada, vá para a cama!
Eu estava despreocupada quanto a isto porque eu já
conhecia a casa e sabia que a mesma tinha muitos quartos. Dormiríamos em
quartos separados, obviamente. Falei:
-Estou cansada, é verdade, mas preciso de um banho antes
da cama. Me dê uma toalha, por favor.
-Claro! Quer um calção meu para dormir mais à vontade?
-Não precisa, obrigada.
-Vai dormir de calça jeans?
-Estou bem, não se preocupe.
Ele me levou para o quarto dele, ligou o ar,
me deu uma toalha e disse:
-Este é o meu quarto, aquele é o meu banheiro, é o melhor
da casa, use-o!
Tomei meu banho. Ao sair do banheiro, vi uma cena incomum
que tenho certeza que vou morrer e não passarei por situação semelhante. Ele
estava deitado, só de cueca, mas a cama de casal estava dividida com três
enormes travesseiros.
Perguntei:
-Pra quê isso?
-Não é assim que você quer? Tem medo de dormir comigo,
não tem? Vou te provar que sou um homem de palavra. Nada será feito caso você
não queira.
-Em uma casa que tem essa quantidade absurda de quartos,
o que te faz pensar que eu vou dormir com você?
-Vai sim!
-De forma alguma!
-Vai! Entenda uma coisa: este é o melhor quarto da casa e
é nele que você vai dormir porque você merece o melhor. Porém, a casa é minha.
Você acha justo que eu saia do meu quarto?
-Não quero que você saia do seu quarto, eu vou sair. Não
faz vinte minutos que você tentou me beijar enquanto eu dormia no sofá. Não vou
passar a noite na mesma cama que você.
-Vai!
Trancou o quarto. Eu comecei a ficar com medo. Pensei:
“Pronto! E agora? Que situação difícil! Eu e ele na mesma cama, esse camarada
vai me atacar, com certeza! Sem muita alternativa, deitei. Conversamos ainda
por um tempo. Falei o seguinte:
-Olha,
me acorda cedo, amanhã eu tenho que trabalhar.
-Vai
não, fica comigo, por favor!
-Não
posso, meu salário será descontado e me fará falta.
-Eu
pago pelo seu prejuízo. Fique a semana comigo, eu preciso trabalhar, mas será
uma felicidade grande chegar do trabalho e te encontrar aqui.
-Enlouqueceu?
Não trouxe roupa e outra coisa, não quero seu dinheiro.
-Você
se preocupa com coisas tão pequenas. Amanhã podemos perfeitamente comprar
roupas para você, compro o que você quiser e te darei todos os mimos que uma
mulher precisa. Depois vamos ao supermercado e você escolhe o que gosta de
comer. Enquanto eu estiver trabalhando, você terá o dia inteiro para ir à
praia, passear, o motorista estará à sua disposição, não terá que se preocupar
em fazer almoço porque tem quem faça para você. Fique comigo, te farei feliz.
-Não!
Outro dia eu passo por aqui novamente, não vamos forçar situações, ok? Se eu
tiver que ser sua, chegarei de uma maneira que te surpreenderá.
Acabei
adormecendo com os três travesseiros entre nós. Quando acordei levei mais um
susto com outra cena incomum: ele estava acordado, com o rosto muito próximo ao
meu, me observando. Falei:
-Bom
dia, né?
-Bom
dia, garota linda!
-Você
passou no teste que eu julguei mais difícil, devo confessar: julguei que você
fosse me atacar durante à madrugada.
-Tive
muita vontade, mas eu disse que sou um homem de palavra. Você não é capaz de
imaginar o tamanho do desejo que senti. Sabe o que é ter a mulher desejada
deitada na sua cama e nada poder fazer? Foi tão difícil administrar isso em mim
que eu não consegui dormir.
-Sério?
-Muito
sério! Passei a noite inteira só te observando, você é linda dormindo, sabia?!
-Rapaz,
já me falaram isso mas eu nunca acreditei.
Nesse estado de quase morte, não devo ser nada encantadora vista assim,
por este ângulo. Sim, vamos deixar de papo, que meu trabalho está gritando o
meu nome.
-Não
vá, por favor!
-Preciso
ir.
Por
mais que eu gostasse da companhia, eu sabia que não deveria ficar. Alimentaria
um fogo que crescia intensamente. O fato de saber que ele passou a noite
somente me observando, foi muito perturbador pra mim, porém eu também o
perturbava, ele sempre falava:
-Quanto
mais você me nega, mais meu desejo por você aumenta. Tenho consciência que
tenho muito dinheiro e não falo isso para impressionar, mas para te
conscientizar que não preciso fazer esforço algum para que uma mulher fique
comigo. Na verdade, elas se jogam, fazem o que quero. Venho te cortejando já
faz um bom tempo e nada! Durante todo esse período, você nunca aceitou meus
presentes ou pediu dinheiro, e eu sei que você precisa. Nunca vi isso na minha
vida. Você é impressionante.
-Vá
se acostumando. Nem o dinheiro que eu ganho com o meu suor me encanta, quanto
mais o dos outros. Não me apego ao material. Se algum dia eu namorar você,
poderá ter a certeza que eu estarei verdadeiramente gostando de ti. Não penso
em seu dinheiro, na verdade, nunca pensei. O que me traz até aqui é o teu
caráter que é fenomenal. Gosto de estar ao seu lado.
Ele
chamou o motorista e ordenou:
-Ela
precisa ir embora, mas hoje eu não vou dirigindo. Estou com sono, cansado, não
dormi esta noite. Mas, eu vou acompanhar vocês.
Nesse
momento, senti vergonha com o que ele falou para o motorista. Os empregados
sabiam que eu tinha dormido com ele, logicamente, se passava na cabeça deles
que tínhamos passado a noite muito bem acordados, desfrutando de um prazer
intenso. Julguei que ele havia falado isso para que o motorista tivesse
realmente este tipo de conclusão. Isso me decepcionou. Ao entrarmos no carro, ele dormiu na mesma hora e eu não tinha coragem nem de olhar para a cara do
motorista. Ao perceber que ele tinha acordado, falei:
-Bom
dia novamente!
-Estou
quebrado!
O
motorista escutando esse papo e a minha decepção aumentando, com certa aspereza
na voz, questionei:
-Tá
quebrado por qual motivo, criatura?
-Porque
não é nada fácil passar a noite na mesma cama com a mulher que se deseja e no
entanto ter três travesseiros atrapalhando qualquer toque com ela. Eu disse que
você só ficaria comigo se quisesse. Você não quis e isso tirou o meu sono, o
que fez com que eu passasse a noite te observando. Por tal razão, estou
quebrado.
Neste
momento, o motorista não conseguiu disfarçar o espanto e olhou para mim pelo
retrovisor. Ele ficou surpreso com a confissão e eu mais ainda. Qualquer homem
na situação de Maciel, deixaria que entendessem o que quisessem e demonstraria
que havia passado a noite comigo. Mas o caráter dele era formidável. Não posso
jamais negar que ele me tratou por todo o tempo com muito respeito.
Me
deixaram no trabalho e partiram. Dias depois eu decidi mudar de cidade e
liguei pra ele:
-Maciel,
eu vou me mudar, arrumei um novo emprego e não poderia sair da cidade sem
comunicar isso para você.
-Quanto
tempo você tem por aqui ainda?
-Uma
semana.
-Vou
te buscar agora!
-Não!
Preciso arrumar minha mudança, lembra?
-Não
se preocupe com coisa pequena, resolverei isso. A mudança só será capaz de te tirar do sério se você quiser. Caso permitia, mando agora mesmo algumas pessoas
para sua casa e elas organizarão tudo. Tire esta semana para descansar, venha
para minha casa.
-Poxa
Maciel, você não tem jeito mesmo! Muito obrigada, mas eu prefiro me virar
sozinha.
-Poderei
saber qual será o seu destino?
-Claro,
eu irei morar um pouco distante do meu trabalho porque na cidade que vou
trabalhar, o aluguel é muito caro e não cabe no meu orçamento.
-Cabe
no meu. More onde quiser, escolha a casa e me comunique. Comprarei para você.
-Não
faça isso! Eu não iria gostar, pode acreditar nisso.
-Se
não quer este presente meu, escolha a casa que pretende alugar, não existe
aluguel caro para mim, digo isso porque não é novidade para você. Falta de
dinheiro não vai ser um problema na sua vida. Pagarei tudo e além do seu
salário, eu te darei mais algum dinheiro para que você possa gastar.
-Não
Maciel, sinceramente muito obrigada, mas eu já disse que não quero seu dinheiro.
Tenho que andar com as próprias pernas! Entenda, é tão difícil assim absorver
isso? Faz um tempão que venho te repetindo a mesma coisa e você continua com suas ideias
fixas.
Assim
como disse Regina, eu e Maciel combinávamos muito, mas quando o assunto era
dinheiro, ele queria que eu aceitasse o que eu julgava inaceitável. Eu fiz a minha
mudança, pouco tempo depois foi o meu aniversário, ele me procurou, passeamos
por belíssimos lugares (eu até duvidava que estivesse no Brasil, diante de
tanta beleza). Mas já na hora de me deixar em casa, ele tentou me beijar contra
a minha vontade. Recusei, e com muita decepção ele disse:
-Eu
te desejei por todo esse tempo e você sempre negou. Um dia você vai se
arrepender de tudo isso, tenho certeza. Eu vou embora, se quiser conversar
comigo, passear, viajar, você sabe como me encontrar. Basta me ligar que o
motorista vem te buscar. Se não quiser se dar ao trabalho, pegue um táxi,
chegando em minha casa, eu pagarei a viagem.
-Maciel,
eu sei que você é diferente dos homens que já conheci, mas entenda que eu
também sou diferente das mulheres que você teve diante dos olhos. Não abusei da
sua boa vontade, nem tampouco do seu dinheiro. Gosto de você, mas não ao ponto
de me envolver em um relacionamento amoroso, não ainda. Mas a proposta está no
ar, você disse que eu vou me arrepender, caso isso aconteça, te procurarei.
-Eu
faria de você a mulher mais feliz dessa vida, sou capaz disso, não pelo fato de
ter muito dinheiro, ele não compra tudo como dizem por aí. Você é a prova deste
ditado popular, meu dinheiro nunca te comprou. Eu não deixaria o sorriso sair
do teu rosto porque o que sinto por você é intraduzível e durante todos os meus
anos, te procurei sem saber que de fato você existia. É extremamente forte o que sinto, mas não
consigo mais te olhar sem nem ao menos poder te beijar. Tudo tem limite, cheguei
ao meu. O meu desejo é muito grande para controlar, não aguento mais palavras
distantes, passeios intocáveis, sentimentos não consumados. Eu quero você e
aguardo o dia que me queira.
Me
deu um forte abraço e foi embora. Senti uma grande surra da vida naquele
momento. Eu fiquei muito confusa, sabia que Maciel estava certo, eu não
discordava dele nem por um milésimo de segundo. Ele sentia que eu não queria,
então a distância seria mesmo o melhor recurso pois dessa maneira, ele poderia
me esquecer.
O
tempo passou e me respondeu que Maciel estava certo. Eu entendi que achar outro
homem que me respeitasse como ele era como achar a famosa agulha no palheiro. A
distância e o silêncio provaram para mim que eu o amava. Na verdade, esse
sentimento sempre existiu em mim, desde quando apenas conversávamos ao
telefone, mas ele me assustava. A quantidade absurda de dinheiro e bens que
Maciel tinha era algo assombroso. Eu sempre me julgava impotente e desprovida
das provas que ele me dizia que esperava de outras mulheres que já havia se
relacionado.
O
meu “te amo” ele nunca ouviu, embora eu o tenha amado. Ele estava certo quando
dizia que o dinheiro atrapalhava seus relacionamentos, esta foi a principal
razão que me separou dele: sua riqueza material. Tinha uma questão que não saía
da minha cabeça, ao me colocar no lugar dele, eu imaginava que muito justo seria
se este tipo de julgamento viesse da parte dele: “Ela é jovem, muito mais nova
que eu, está comigo apenas pelo meu dinheiro”. Essa possibilidade eu não
conseguia descartar e cada vez que ele tentava se aproximar, eu recusava.
Acreditava piamente que caso permitisse o romance, sofreria com questionamentos
infindáveis relativos ao meu amor por Maciel, na época, simplesmente abri mão.
Peguei
o telefone por diversas vezes, mas fui incapaz de ligá-lo. Resolvi deixar o
passado no passado. Não tive mais notícias dele, mas uma coisa é certa:
realmente ele me faria feliz, essa certeza carrego em mim porque conheci
profundamente o caráter fora do normal, carinho, atenção e respeito que Maciel
sempre me proporcionou. Sem relacionamento firmado, nem ao menos um beijo dado,
ele provou que durante todo o tempo foi o homem que sempre procurei na vida.
Esse presente que o dinheiro dele não era capaz de comprar, ele me deu. Dou a mão à palmatória e confesso: Maciel era
diferente, o considero a exceção da regra masculina e concordo que estava
coberto de razão, eu me arrependi e até hoje, espero encontrar a falha do
ditado popular: Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.