quarta-feira, 22 de junho de 2016

EMOÇÕES EM ESCOMBROS

Eu, visitando o que restou da casa de Ascenso Ferreira.
Em Palmares, Pernambuco, Brasil.
Todas as vezes que vou danada pra Palmares
na tua casa tenho vontade de chegar
uma forte energia me atrai.
Lá te vejo em teus quase dois metros
e mais de cem quilos de pura cultura
usando teu inseparável chapéu de palha.
Te escuto recitando teus poemas
é uma mistura de sensações boas e ruins
poesia e indignação
versos em ruínas
estrofes destruídas
cadências em metralhas
ritmos em entulhos.
Leio teus livros nos pedaços das paredes
da casa lavada pelas águas do Rio Una
com perfume de enchente
e sabão de desprezo.
Bagunça longe de ser arrumada
porque costuraram os olhos.
Sinto raiva de mim
por ser tão pequena assim
e não poder sozinha fazer a faxina necessária
faxina de pedra  sobre pedra.
Ao adentrar os “cômodos”
sinto o aroma do café de dona Maroca
misturado ao forte cheiro do teu charuto
e imagino ter sido escrito nesta casa
um dos teus poemas mais citados
mas dessa “Filosofia”
perdoe-me grande poeta
devo de ti discordar
pois quando estou em meio aos escombros
perco a hora de comer, dormir
e sei que não devo vadiar
muito menos colocar as pernas para o ar.
Devo de alguma maneira trabalhar
para essa tua casa levantar.


(Para o maior poeta palmarense: Ascenso Ferreira)

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