segunda-feira, 20 de junho de 2016

MACIEL FICOU SURPRESO...

        Depois de alguns anos de ter deixado o passado no passado, o tempo aprontou suas travessuras e trouxe o passado para o meu presente. Em um momento de extrema euforia, pela realização de um projeto engavetado há tempos, decidi que deveria comemorar essa alegria com parentes e amigos. Como Maciel é inquestionavelmente importante em minha vida, decidi convidá-lo.
        Por diversas vezes, peguei o celular antes de conseguir obter a coragem necessária para falar com ele. Um detalhe importante é que eu tinha perdido o celular e não procurei recuperar meu número, simplesmente comprei outro chip e Maciel não tinha noção do meu novo contato. Quando a minha coragem deu o ar da sua graça, liguei.
        -Alô!?
        -Bom dia, Maciel! Será que ainda lembras de mim?
        -Quem fala?
        -Hanna! Aquela que por diversas vezes te negou e que dormiu contigo separada por uma muralha de travesseiros. Lembra?
        -Menina! Quanto tempo, hein? Claro que lembro, você me deixou marcas profundas, sempre lembro de você.
        Fiquei desconfiada. Será que ele lembrava mesmo? Fazia um bom tempo que havíamos perdido o contato.
        -Maciel, tem certeza que lembras mesmo de mim?
        -Quer provas?
         O camarada falou detalhes de conversas que tivemos há anos, fiquei impressionada!
        Ao ter a certeza da lembrança, revelei o real motivo que me fez ligá-lo depois de tanto tempo:
        -O negócio é o seguinte: Passo por um momento de felicidade intensa e preciso ter por perto pessoas especiais para comemorarem comigo. Será algo bem simples, mas eu gostaria muito que você viesse porque você foi e continua sendo muito importante para mim. Posso nutrir dentro de mim a esperança de que você virá?
        -Claro! Marque o dia e me avise com uma certa antecedência para que eu desmarque todos os compromissos da minha agenda. Estou orgulhoso, sabia? Parabéns!
        -Obrigada! Se você não vier, minha felicidade não será completa.
        -Nem pense nisso! Estarei aí. Sim, me fale mais, como está sua vida?
        -Está tudo bem por aqui...
        -Olhe, você me fez um convite, agora chegou o momento de eu fazer o meu. Repito o que sempre falei para você: Quando quiser sair, passear, basta me ligar que eu vou te buscar. Falo assim na amizade, tá? Sei que você me vê apenas como amigo.
        -Eu não sei se você acredita em coincidências, mas amanhã eu estarei bem perto da tua cidade, quer dizer, não tão perto, mas, a distância que nos separa, amanhã estará pela metade. Preciso resolver uma questão por estes lados...
        -Sério? Vou te buscar! Vamos marcar um horário?
        -Chegarei por lá aproximadamente ao meio-dia.
        -Até amanhã, menina.
        -Até!
        Ao meio-dia do dia seguinte, aconteceu o nosso reencontro. Nossos sorrisos se cumprimentaram. Entrei no carro e dei um cheiro nele.
        -Hanna, você continua linda.
        -Você também.
        -Que nada! Os meus cabelos estão cada dia mais brancos.
        -Esses cabelos grisalhos, que ficam cada vez mais brancos me fascinam. Pode ficar certo disso. Não gosto de garotões.
        Um sorriso discreto mas muito confiante surgiu no rosto dele.
        -Menina, você não tem noção pra onde vou te levar. Olha, desde ontem que penso em lugares especiais para te mostrar. Vamos almoçar primeiro em um lugar bem aconchegante e depois vou te levar em uma praia muito bonita.
        Fomos almoçar, escutamos boas músicas, colocamos o papo em dia. Maciel, demonstrava por todo o tempo sentir o mesmo desejo que sentia por mim no passado. Mas ele continuava com todo aquele cuidado comigo, já tinha tido provas mais que suficientes que eu só ficaria com ele se realmente quisesse isso. O que ele não desconfiava, era que dessa vez, eu queria ele. E eu estava bem convicta quanto a isto. Depois do almoço, ele me convidou novamente:
        -Vamos para a praia que te falei?
Um detalhe no mínimo curioso, era que o restaurante se localizava em uma praia. Me questionava: “Se estamos em uma praia, pra quê vamos para outra?”. Mas, lá fomos nós.
Ele me perguntou:
-O que trouxe nessa sua bolsa?
-De tudo um pouco. Carrego na bolsa um kit básico de sobrevivência feminina.
-Tem biquíni?
-Não.
-Você acabou de dizer que tem um kit de sobrevivência aí dentro e não tem um biquíni?
-Mas eu não preciso de um biquíni para sobreviver.
Quando nos aproximávamos da praia, ele foi todo cauteloso me preparando:
-Olha, esta praia que estou te levando não é de nudismo, mas quem vem pra cá, toma banho pelado.
-Como é a história? Não é praia de nudismo, mas o povo toma banho nu? Que coisa mais sem lógica!
-Deixa eu te explicar: É porque ela é uma praia deserta, então as pessoas que a frequentam, se sentem à vontade para ficarem sem roupas de banho. Outra razão para que isto aconteça é porque ela é muito visitada por gringos e eles são famosos por tomarem banho de mar assim, peladões.
Nesse instante avistamos uma pessoa na praia. Maciel me disse:
-Observe aquela mulher lá, já está fazendo topless, daqui a pouco ela tira a calcinha. Tá vendo que ela está sem sutiã?
Dei uma gargalhada daquelas e ele ficou sem entender:
-Você está rindo porque viu uma mulher nua?
-Não, criatura! Estou rindo com a tua besteira. Não é uma mulher, é um homem! Só que ele tem um cabelão bem ao estilo Humberto Gessinger. Faz quanto tempo que você não vai a um oftalmologista, hein?
Sorrindo ele me disse que depois de uma dessas, realmente precisava de uma consulta com urgência. Depois disso, ele direcionou o carro por um caminho de difícil acesso, com muitos matos, espinhos, e ainda falou para o carro (achei o máximo isto!): “Me desculpe meu amigo, hoje você vai ser arranhado, mas esta menina merece conhecer o que tenho para mostrar para ela”.
Praia de São Miguel dos Milagres,
Alagoas, Brasil.
Chegamos. A praia realmente tem uma beleza única, a mais bela que tive o privilégio de conhecer (São Miguel dos Milagres, Alagoas). Sentamos na areia e ficamos filosofando a vida. Acredito intimamente que Maciel não suspeitava o que aconteceria. O papo era inocente, falávamos da vida marinha, da beleza da praia, do pôr do Sol de lá que ele me garantiu que era belíssimo, e que justamente por esta razão tinha me levado lá. Julguei que aquele era o momento de cumprir a minha palavra. Na última vez que estive com Maciel, prometi que se algum dia quisesse namorá-lo, chegaria quando ele menos esperasse e de uma forma surpreendente. Ele estava todo empolgado com a conversa quando eu decidi interrompê-lo:
-Maciel, a hora está avançando, daqui a pouco escurece, vai fazer frio e eu quero tomar um banho de mar antes disso. Vamos?
-Mas você me disse que não trouxe biquíni, sei que você é bem capaz de entrar no mar com essa calça jeans, mas é desconfortável demais. Tem certeza que quer mesmo mergulhar assim?
-Claro que quero mergulhar! É um crime inafiançável conhecer esta praia e não banhar-se nela. Quanto ao biquíni e ao jeans, surgiu uma dúvida: Não foi você mesmo que me falou que nesta praia não se usa nenhum tipo de traje? Pra quê então discutir o modo como vou entrar no mar?
Com a maior naturalidade que se possa imaginar, eu me levantei, fui a caminho do mar e durante o meu trajeto, fui tirando peça por peça da roupa que me vestia e jogando na areia, até ficar sem nada.
Sinto muito, mas não tenho palavras para descrever a cara, a reação, a incredulidade e a surpresa de Maciel. Com muita vontade de rir, mas mantendo a seriedade, olhei pra trás, ele continuava sentado na areia me observando, chamei-o:
-Vem não? Vai me deixar tomar banho sozinha?
Mergulhei, e tenho o fôlego bom até demais. Quando resolvi voltar à superfície, percebi que eu estava numa profundidade que não dava pé e Maciel estava entrando no mar. Chamei-o novamente. Ele me disse:
-Está de sacanagem comigo, né? Você sabe que eu não sei nadar, vai para o fundo e me chama? Acho bom você vir pra junto de mim agora, ou então, mesmo sem saber nadar, farei um esforço de chegar aí, e você corre o risco de ter que me salvar.
Mergulhei de novo e só reapareci bem na frente dele. Eu o beijei.
Fomos para o raso, água na altura dos joelhos. Não havia ninguém além de nós, praia deserta mesmo. Eu o dominei e muito interessante era a reação dele. Ali no mar eu me realizei, alcancei meus objetivos e ao perceber isso, ele me disse:
-Hora de parar tudo! Saia de junto de mim.
-Por quê? Você está cheio de gás ainda.
-Eu sei, mas só vamos poder terminar em casa, saia de junto de mim.
-Mas por quê?
-Olhe pra trás! Tem no mínimo uns dez caras te observando. Eles estão tão cheios de gás quanto eu, sentindo prazer também, só que de maneira solitária. Estão te desejando, estão também morrendo de inveja de mim porque presenciaram toda a tua intensidade. Saia de junto de mim, nossas roupas estão na areia e a única maneira de eles saírem daqui é quando tiverem a certeza que o show acabou. Quando o show acaba, a plateia vai embora. Deixe eles pensarem que tudo acabou e quando eles se forem, te levo pra minha casa, lá não teremos plateia.
Me distanciei e rapidamente os curiosos de plantão foram embora. Maciel pegou minha roupa, me vesti, e fomos pra casa.
Questionei:
-Não tinha ninguém quando chegamos à praia, como foi que rapidamente apareceram tantos homens?
-Certamente foi o carro estacionado que chamou a atenção deles. São nativos. Sabem que carro parado em praia deserta é sinônimo de casal se amando. São tarados, vivem a procurar momentos como este. Outra coisa, eu até os entendo.
-Como assim?
É tão natural um casal se amar na praia, por mais que queiram disfarçar, que os movimentos sejam leves para não chamar a atenção de ninguém, sempre se sabe quando eles estão em um namoro mais íntimo. Mas quando isso acontece, quem está de fora observando, consegue manter a discrição, até olha para o casal, mas não fixa o olhar porque percebe que eles não querem ser notados. Acontece que nós estávamos no raso, completamente nus, e você estava fazendo o excelente uso de uma sensualidade ímpar. Qual é o homem que vendo cenas desse tipo consegue disfarçar o olhar? É impossível! Hanna, você foi perfeita!
-Não precisa vir com discursos masculinos para o meu lado e dizer pra mim tudo aquilo que você diz para outras mulheres.
-E quem disse para você que digo isso para outras? Não discuta comigo, você é deliciosa e quem entende de mulher aqui sou eu. É deliciosa, pronto e acabou-se! E por falar em delícias, vamos terminar o que começamos na praia, eu continuo com gosto de gás!
-Vamos! Mas faremos diferente. Na praia, não te dei muita chance de defesa. Agora, quero que me fale como queres.
-Sim, concordo que na praia você tenha me deixado sem ação, foi muito surpreendente como você conduziu tudo. A partir de hoje, não posso mais te chamar de menina. Eu estava enganado, de menina você não tem nada! Você me mostrou como é intimamente, agora chegou a minha vez, me deixe “trabalhar”.
-Maravilha, vou tentar ficar quietinha, na praia tivemos plateia, aqui, a tua plateia serei eu. Vamos, comece logo! Estou curiosa.
Maciel realmente tem palavra. Não brincou. Na casa dele, na mesma cama que há anos dormimos separados por uma muralha de travesseiros, tempos depois, de tão próximos, fomos um. Naquele momento, diante de toda a sua experiência, me senti uma menina, inexperiente. Com muita frequência, eu pedia:
-Pare!
        -Por que quer que eu pare? Não está gostando?
        -O problema é justamente o inverso disso, estou gostando demais.
        Ele foi muito intenso, por todo o tempo. Me deixou exausta. Quando eu já estava quase dormindo, ele perguntou:
        -Se estava gostando, por que me pediu tantas vezes para que eu parasse?
        -Porque você estava me enlouquecendo de tanto prazer.
        -E você acha isso ruim? Eu estava fazendo o básico dos básicos quando você me suplicava uma parada.
        -O básico dos básicos com muita perfeição. Entenda: Todos os homens fazem as mesmas coisas. A diferença está no modo de fazer essas mesmas coisas. O seu básico é feito de uma maneira deliciosa, muito diferente do básico dos outros. Tentando definir melhor, você fez um “básico-avançado”. Queria que parasse para que o meu momento de prazer pudesse ser prolongado. Você foi tão maravilhoso que posso até não aparentar, mas estou com muita raiva de você.
        -Te dei motivo pra isso?
        -Todos! Você deveria ter tentado, ter me seduzido de alguma maneira naquela noite que dormi contigo entre travesseiros. Se você tivesse sido intenso como foi hoje, não teríamos nos perdido por esses anos.
        -Se eu tentar entender as mulheres, vou acabar doido! Naquela época você quase me bateu porque eu encostei minha boca na tua enquanto você dormia no sofá. E hoje você me fala que eu deveria ter te seduzido? Você foi tão convicta que me queria apenas como amigo, que hoje na praia, se você não tivesse tirado a roupa e me chamado, eu não teria encostado em você.
        -Apenas cumpri minha palavra. Lembra que eu te disse que se algum dia quisesse namorá-lo, chegaria de uma maneira que te surpreenderia?
        -Surpreendeu mesmo. Nunca imaginei que você fosse capaz de tamanha sensualidade. Sempre muito recatada, só usa roupas compostas, aparentemente uma mulher muito tímida, uma dama da sociedade.  
           Dessa maneira nos reencontramos. Intensidade maior que essa, nunca provei. E o tempo que a tudo responde, me provou que Maciel caiu em mim (como um raio), no mesmo lugar duas vezes! E três, quatro... incontáveis vezes! Contradizendo assim o ditado popular, e como cumpridor de palavras: me faz muito feliz!

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