terça-feira, 7 de junho de 2016

CHOPP AFRODISÍACO



         O Edifício Aveiro foi muito marcante na minha vida. Morei nele até os meus quatorze anos. Inacreditavelmente todos os moradores viviam em perfeita harmonia. Aos domingos, todos combinavam uma lavagem coletiva de carros e isso sempre acabava em festa, com direito a comes e bebes. Como todo domingo era dia de farra, os moradores se habituaram a isso e todo aniversário que tinha era comemorado na garagem. Os convites eram feitos pelo interfone dessa maneira:
            -Desce! Hoje é o aniversário de Sylvinha (festa de seis anos, eu acho)!
            Com pouco tempo, a animação estava garantida.
            Meu pai chegou com pouco tempo e para a alegria dos marmanjos, trouxe consigo dois barris de chopp. Era bebida que não acabava mais. Eu brincava com as crianças e observava a animação dos adultos. Depois de um tempo, Gustavo, um grande amigo nosso que morava no primeiro andar, cansado de ter que estar de instante em instante abastecendo as canecas de chopp (ele assumiu o papel de garçom neste dia), sugeriu justamente para minha tia Kátia, que já tinha “degustado” bastante chopp:
            -Kátia, vê se arruma uma jarra grande ou uma garrafa para que eu possa encher de chopp. Dessa maneira eu não preciso estar no barril de instante em instante, né?! Vê aí se consegue facilitar o meu serviço.
            Minha tia, muito prestativa, mas também muito cheia de chopp no juízo, foi lá em casa satisfazer o pedido de Gustavo. Lá chegando, não encontrou a jarra que Gustavo pedira e resolveu usar a criatividade. Do segundo andar mesmo, colocou a cabeça na janela e gritou:
            -Gustavo! Não achei uma jarra, serve esta bacia?
            -Perfeito!
            Muito “prática” (essa é a característica marcante dela quando bebe um pouquinho a mais da conta), minha tia de lá mesmo, pela janela jogou a bacia.
            Gustavo começou a servir o chopp para todos na bacia. Depois que todos já havia saboreado o chopp, minha avó (também Sílvia), resolveu descer para a garagem para dar uma olhadinha na festa. Ela é muito animada, foi de mesa em mesa, falou com todos os nossos vizinhos de prédio, foi uma animação grande. De repente, ela resolveu sentar, foi nesse exato momento que viu Gustavo servindo o chopp com a bacia e a achou familiar demais. A curiosidade imperou e ela perguntou:
         -Arrumaram essa bacia aonde?
         -Foi Kátia que trouxe da sua casa dona Sílvia.
            -Não sei pra quê Kátia bebe! Toda vez que ela resolve beber, sai com uma palhaçada. Pois fiquem sabendo que vocês estão tomando chopp com a bacia que eu lavo as minhas calcinhas!
            Ninguém se controlou, foi uma gargalhada geral, já estava todo muito bêbado mesmo. Gustavo achou pouco e disse:
            -Por isso que este chopp está tão gostoso, dona Sílvia!

Texto publicado em meu primeiro livro:
"Mistura Heterogênea - Poemas, contos e crônicas
            E engana-se quem pensa que depois dessa revelação a bacia tenha sido trocada por uma jarra ou coisa parecida...

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