quinta-feira, 20 de abril de 2017

(A)PROVA(S)


És o meu maior desafio
Quesito inacabado
Matéria de extremo peso
Palíndromo versificado
Minha mais dura PROVA
É te amar, isso é fato!
Pertinente, arredio, inconsequente
És a hora desmarcada
O dia enluarado
A noite ensolarada
Um eu-lírico traiçoeiro
Tudo que a razão desa(prova)
Me colocando em constante PROVA.
À PROVA da tua degustação
Desrespeitando meu sim e meu não
Deixando sem ação minha estrutura emocional
Tal qual num texto um ponto final.
A loucura vem e em mim faz morada
Como se eu fosse uma mera desqualificada
A rotina foge à retina
Quando você se aproxima
Camisa de força não me segura
Não paro nem sob tortura
Ou requintes de crueldade
Não me importa a imposta maldade
Fujo de qualquer realidade
E uma dúvida me apavora:
"Será que queres uma santa
Ou desse jeito insano tu me (A)PROVA(S)?".


(Sylvia Beltrão)

sábado, 11 de março de 2017

ESPELHO

Durante uma aula de literatura, falei para meus alunos que não faço o uso da "inspiração" na hora de escrever meus poemas, utilizo a motivação e o domínio da técnica.
Imediatamente, uma aplicada aluna resolveu me testar e lançou o seguinte desafio:
- Então, faça um poema agora!
- Faço!
- Mas tem que ter um título escolhido por nós!
- Fechado!
Depois de muito pensarem, me deram: "Espelho". À base do improviso, saiu isto:



ESPELHO

Vejo que alunos me desafiam
A escrever sobre um espelho
E é por esse vidro que vejo
As pessoas que em mim confiam.

De um lado, mainha
Na moldura os críticos
Mas eles me chamaram de rainha
E é com esse elogio que eu fico.

Foi desse pedaço de vidro
Que saiu o meu reinado
Mostrei aos alunos o que mais faço
Através dos meus versos espelhados.



(Barreiros, março de 2016).
OBS: Fui aplaudida! Rsrs

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

AMANHÃ


Amanhã pode ser que eu detone
Hoje não!
Estou fraca demais pra jogar a granada
Ela poderá explodir em mim.

Amanhã talvez eu chore
Hoje não!
Eu já implodi por hoje
Meu estoque lacrimal está em crise
Secaram num prévio sarau.

Amanhã talvez eu vá à praia 
Hoje não! 
Já não há em mim Sol à vista
Nessa noite interna tão fria.

Amanhã talvez eu te esqueça
Hoje não!
Porque a minha ira por ti
Não me deixa te esquecer.

Mas falta pouco tempo
Para o amanhã chegar:
Fração de minutos!
Isso é só um aviso para você
Meu amor de hoje,
De ontem
E provavelmente de vidas passadas
Mas possivelmente não mais de...
...amanhã.

Porque o teu hoje me deixou claro
Que teu amanhã não me pertence
Já que não vives nele.
Até hoje apenas! Adeus!


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

INFELIZMENTE TE AMO


Te provando pude descobrir
Que és cruel como ninguém
Dono das melhores qualidades
E das piores também!

Não és capaz de despertar
Somente amor ou somente ódio
És essa mistura explosiva
Que dinamita a minha vida.

Tens tudo o que preciso
E tudo o que não mereço
Teu amor é arma com silenciador
Me mata em silêncio, exalando dor.

Em relacionamentos antigos
Nunca dei gelo, preferi icebergs
Isso é o que você também merece
Mas não consigo fazer isso contigo.

Até tentei e o sofrimento foi intenso
Porque meu corpo tem memória
Já me provou que te adora
E quando você chega perto
Meu iceberg derrete por completo
Facilmente esquento...

Parece que você me cutuca
Com uma agulha de vudu
Não há outra explicação
Para eu não esquecer de tu.

Fecho meus olhos para suas armações
Quando seus beijos entram em múltiplas ações
E essa minha demência
Têm dolorosas consequências.

Seja para mim ou para outrem
Porque não fico aberta pra ninguém.
É uma submissão profunda
Tenho comigo essa lacuna.

Enfim...
Fui  traída por você
Fui traída por mim
Por outro homem não chamo
Porque infelizmente te amo.

Sylvia Beltrão
07/02/2017


sábado, 28 de janeiro de 2017

INTER



Nos teus poemas, eu
Nos meus poemas, tu
Em versos nus
Nos beijamos
Nos batemos
Nos desejamos
Nos guilhotinamos...
São os nossos (inter)textos.

Tuas indiscrições me açoitam
E uma saudade de tão grande, concreta
Se expressa
Seja em papel, tinta
Pele ou saliva
Deixando visível
Nossos (inter)desejos.

Fugindo da normalidade
Vem nosso beijo abstrato
Distante por muitas cidades
E contraditoriamente
Mais saboroso que muito beijo presente...
(Inter)beijos, obviamente!

Distantes, nossos corpos viajam
Sem a permissão da matéria
Mas com o apoio da velocidade da luz
E ao se encontrarem
Na mais perfeita essência
Se agarram sem/com toda demora
Porque nossa pele tem memória
Disso e de mais coisas sabemos
Afinal, temos as nossas infalíveis...

... (inter)certezas.