segunda-feira, 27 de junho de 2016

FREDÍSSIMO

Eu e painho.
Hoje é o aniversário do meu pai, o senhor Fred Beltrão, mas eu o parabenizo a cada respirar. Sou sua primeira filha e uma filha que foi muito desejada, vale ressaltar. Fez de mim uma criança muito feliz. Fui uma forte candidata a ser uma criatura insuportável, pois recebi não somente dele, mas de toda a família, muitos mimos (ainda recebo até hoje, rsrs). Tudo chegou para mim de uma maneira muito fácil. Não precisava espernear, bastava apenas dizer o que queria que em pouquíssimo tempo meu desejo era realizado.
Graças a Deus souberam me criar de maneira realista, foram me moldando para ser uma criatura sensata, pé no chão. Meus pais sempre me mostraram a realidade das coisas: “Te damos o que você quer porque podemos te dar, mas não sabemos nada sobre o amanhã. Talvez um dia não possamos satisfazer seus gostos e você terá que se conformar com isso. À mesa sempre têm as comidas que você gosta, mas se algum dia só tiver farinha e água, coma satisfeita e ainda agradeça a Deus, pois tem muita gente que vive dessa maneira. Seja humilde!”. Esses são alguns pequenos exemplos da educação que tive em casa.
Tive do meu pai uma cobrança escolar muito rigorosa. Ele era extremo, me preparava não somente para superar a média das notas, mas para ser a melhor da turma. Se eu chegasse com uma nota vermelha, não levantava a mão para me bater, ele nunca utilizou esse recurso, mas suas palavras faziam minhas lágrimas caírem de três em três. Me incentivava a escrever, muito. Dizia que dessa forma eu aprenderia de maneira mais eficiente os conteúdos passados pelos professores: “Não espere que seu professor anote algo no quadro, enquanto ele explica vá fazendo suas anotações no caderno, isso te dará agilidade na escrita e aumentará o potencial do seu raciocínio”.
Como qualquer criança, tive meus momentos de lazer. Me levava com frequência à pizzarias, shoppings, praias, parques. Enfrentou uma multidão comigo na “corcunda”, num show do grupo musical “Menudo”, porque esse era o meu sonho (eu tinha uns cinco anos nessa época). Minha mãe dizia:
-Fred, você é louco de levar Sylvinha para um evento desses? A casa de show estará lotada, com certeza! Vai levá-la mesmo assim?
-Vou! Ela quer ir, não quer?! Então ela vai!
 Foi até para um show da Xuxa (mesmo sem gostar), na Ilha do Retiro, para satisfazer meus caprichos. Me colocou num curso de inglês e se matriculou também, só para poder conversar comigo nesse idioma e saber se eu estava me dando bem nessa língua estrangeira.
Entretanto, ganhava dele passeios que muitas crianças nunca tiveram. Desde muito pequena, ele me levava semanalmente para bibliotecas e livrarias. A “Livro 7” (uma livraria que era um mundo de tão grande), era o meu passeio de todos os sábados. E ele saía de lá carregando uma sacola pesada dos livros que eu escolhia, porém, cheio de orgulho: “Tenho uma filha leitora!”. Se por um acaso eu quisesse algum livro que não tivesse disponível na Livro 7? Naquela época não tinha a facilidade disponibilizada pela internet de comprarmos um livro diante de um computador e depois de poucos dias recebermos em nossa casa. Painho corria tudo quanto era livraria, mas chegava com o livro e com um sorriso radiante. Eu estudava no colégio mais caro de Olinda e houve um momento que ele passou por um sério problema financeiro.
Isso foi capaz de bagunçar toda a sua vida, menos os meus estudos. Meu pai passou o ano inteiro acumulando as mensalidades do colégio, sem poder pagar, no final do ano foi lá negociar a dívida mais o valor da renovação da matrícula. Criou uma imensa bola de neve em débitos, contudo não cogitou a possibilidade de me transferir para uma escola de menor valor. Justificava que enquanto vida tivesse, poderia passar fome, mas me daria sempre a melhor educação escolar. Essa teimosia ele sempre teve e ninguém o convencia do contrário (nem convence, pois ele continua fazendo exatamente tudo do mesmo jeitinho com minhas duas irmãs).
O mundo deu suas mirabolantes voltas e eu pude mostrar para meu pai o quanto tudo isso foi muito válido. Sei o tamanho do orgulho que ele nutre por mim, hoje não sou apenas a leitora que ele citava tanto na minha época de infância, sou também escritora. Quando meu livro estava prontinho, ele foi comigo buscar lá na editora. Estava mais feliz que eu, muito emocionado. Uma cena impossível de ser esquecida. Painho me chama de “Talismã” e justifica a origem desse apelido dizendo que eu lhe trago sorte. Mas não sabe ele que essa “sorte” que lhe trago é reflexo do exemplo que ele sempre foi em minha vida. São poucos os homens que exercem o verdadeiro papel de pai. Sou extremamente feliz por poder bater no peito e falar com um orgulho danado: Meu pai está nesse meio!    
Painho, quero que entendas que seu “Talismã” foi feito e lapidado por você. Se você não tivesse me dado o seu brilho, eu seria um pedaço de pedra qualquer, sem valor algum. Muito obrigada, muito obrigada mesmo! Eu te amo imensamente. Seja feliz! Que os anjos do Senhor acampem ao teu redor e te protejam sempre. Estarei na tua torcida.


                                           Um beijão do teu talismã: Sylvinha.

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