Eu era recém-nascida e enquanto minha mãe me
amamentava, a cozinheira gritou:
-Uma cobra!
Minha mãe nada respondeu, pois ficou
imaginando que deveria ser uma cobra pequena, dessas de duas cabeças. Como a
cozinheira não viu manifestação alguma da parte de mainha, reforçou o grito:
-Socorro!!!! Uma cobra!!!!
Do quarto, minha mãe ordenou:
-Mate!
-É muito grande!!! Eu tenho medo!!!
Foi o jeito mainha interromper a amamentação
e se dirigir à cozinha. Realmente, a cobra era grande, grossa e até bonita a
danada: um verde fluorescente que chamava atenção e ela rastejava-se
tranquilamente, pelo meio da cozinha.
-De onde veio essa cobra? – Perguntou mainha.
-Ela entrou pela janela, desceu pelo
caldeirão que estava sobre o fogão (que se localizava embaixo da janela) e foi
descendo, descendo, descendo...
Estavam somente as duas em casa e nessas
horas de aflição, as mulheres só lembram-se dos homens para prestarem um
socorro. Lembraram primeiramente de Biu.
Biu
era um senhor de aproximadamente quarenta anos, que tinha um fiteiro em frente
à nossa casa. O detalhe que não pode deixar de ser citado, é que Biu vivia 24
horas por dia alcoolizado. Seu maior hobbie era tomar cachaça com uma talhada
de doce. O mesmo foi convocado pela minha avó paterna que vinha chegando nesse
momento de agonia.
Enquanto isso, minha mãe e a cozinheira
preparavam suas armas: vassouras, paus, facões, enfim, tudo que tivesse ao
alcance e pudesse servir para matar uma cobra de grande porte. Nisso, volta
minha avó acompanhada do corajoso Biu, que logo foi pegando a vassoura para
matar esse bicho peçonhento, só que em seu estado ébrio, sempre batia a
vassoura no chão do lado contrário à cobra. Certamente ele estava vendo mais de
uma.
E o pior é que ele vestia um calção de nylon,
bastante folgado nas pernas, de maneira tal que quando ele se abaixava no
intuito de matar a cobra, percebia-se claramente que ele não estava usando
cueca. Foi quando todas perceberam que de fato, não havia apenas uma cobra na
cena, entretanto todas as mulheres eram extremamente tímidas e não comentaram
nada a respeito.
Enfim, a cobra (verde fluorescente, é bom
deixar isso bem claro) acabou entrando embaixo da geladeira. Aí sim complicou a
situação, porque Biu, coitado, abaixava-se mais ainda na tentativa de agarrá-la.
Por fim, deixou a vassoura de lado e foi pegar a bendita cobra com a mão. Aí
veio o grito:
-Peguei!!! Peguei ela pelo “pescoço”!
A situação ficou mais confusa ainda. Cobra
com pescoço?
Mas
ele não foi muito feliz, a cobra lhe picou na mão. Também pudera né?! Foi pegar
a cobra logo pelo “pescoço”...
Daí começaram a gritar:
-Leva Biu para o Hospital!
Mesmo depois de mordido, ele não soltava a
cobra. Dizendo que só soltaria em um terreno baldio, a caminho do Hospital.
Assim foi feito. Depois do atendimento médico ele voltou são e salvo. O melhor
de tudo foi quando ao entardecer, a minha avó materna chegou para nos visitar,
minha mãe estava ocupada e chamou minha outra avó para que narrasse o fato
ocorrido. Quando ela começou a descrever a cobra, foi de uma maneira tão
estranha, que minha mãe em dúvida perguntou-lhe:
-Qual das duas cobras a senhora está se referindo:
A verde ou a de Biu?
-E você também viu a cobra de Biu, foi?!
-Todo mundo viu.
E a gargalhada foi geral.
(Dedico esse texto especialmente para
a minha "Frô" querida: Cynthia Araújo).
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