domingo, 1 de maio de 2016

(ESTOU...)

De um lado a minha emoção
do outro a minha razão
e eu no meio disso tudo
como a corda de um cabo-de-guerra
(dividida...)

Cheguei a pensar
que meus anos vividos
haviam me protegido
com uma armadura de amianto
(profundamente enganada...)

Cheguei a apostar
que nenhum homem
seria capaz de me dobrar
e perdi para mim mesma
(vergonhosamente decepcionada...)

Julguei impossível te encontrar
achei que tanta idealização
fosse da minha parte meninice
e eu me sentia dona de mim
(cética...)

E você me aparece perfeito, irretocável
como um poema parnasiano
mas também imperfeito
por não existir sentimento em teus versos
(duvidosa...)

Você se apresenta proibido
como a maçã do Éden
proibido e desejado
me tirando o gosto pelas outras frutas
(prestes a cometer o pecado original...)

Quando você se aproxima
o controle é complicado
eu quero te devorar
mas sei que não devo avançar
(impotente...)

Essa tua versão masculina de Capitu
que me olha com esses olhos
"de cigano oblíquo e dissimulado"
me deixam sem defesa
(e o pior é que eu gosto...)

Eu desejo ter para você o significado
que a rosa tem para o "Pequeno Príncipe"
e ser protegida, amada e guardada
na tua redoma para sempre
(aprisionada por escolha...)

Ou quem sabe até
ser a "Rosa de Hiroshima"
para provocar a destruição em massa
de todo esse meu sofrimento
(nociva...)

A minha razão me vence
ainda que por enquanto
ela não deixa que eu externize
o meu lado naturalista de ser
(comportada...)

Mas a minha teimosa emoção
não quer atender minha razão
e nem se dá por vencida
ela é determinada e devassa
(amedrontada...)

Queria poder me desmaterializar
e através de ondas alcançar
um universo paralelo
e lá te encontrar, me entregar
(quanticamente apaixonada...)

Ou então quem sabe
ser autista e no meu mundo
sozinha comigo mesma
te buscar e aprisionar
(sequestradora...)

Queria na fase adulta
poder falar como criança
falar verdades nuas e cruas
e por fim ser aplaudida
(iludida...)

Mas infelizmente
minhas melhores palavras
estão em uma prisão perpétua
perpetuando, perpetuando
(sem poder de expressão...)

E minhas palavras querem aparecer
gritam pelo direito da pronúncia
e para não ser traída pela minha boca
as aprisiono nos meus olhos
(quão singela sou...)

Mas não adianta!
Já fui traída de todas as formas
mas essa é a primeira vez
que sou traída pelo meu olhar
(isso é o fim...)

Não que eles falem
mas eles libertam minhas palavras
e elas saem alegres
saltitantes e audaciosas
(indisciplinadas...)

Sempre escutei de muitos
que carrego um mistério no olhar
mas sem me dar chance de defesa
você decifra o meu silêncio
(Mona Lisa apreensiva...)

Tento te esquecer
busco Caetano, Chico,
Djavan, Jorge Vercillo e Gil
eles não me ajudam mais
(solitária...)

Procuro então a tua voz
gravada em meu celular
a calmaria vem toda faceira
e consegue! Ela me adormece!
(depressiva...)

Te coloco em minhas orações
suplico que ao menos em sonho
o meu desejo se realize
por uma vez eu consegui
(salva por Morfeu...)

E depois de um delicioso sonho
tenho raiva de mim
por ser tão incapaz de ser feliz
e acordar para uma dura realidade sem ti
(eu absurdamente te...)


(Para uma pessoa que amo do tamanho de uma girafa enooorme:
Ana Karla Beltrão, minha prima).
                 

2 comentários:

  1. Lí e relí.
    Pensei em comentar, responder ou agradecer, mas diante de tamanho talento eu só tenho uma coisa a dizer (ou citar): "EU ABSURDAMENTE TE AMO!"
    Só isso, apenas isso!

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  2. Só o fato de saber que você fez uma segunda leitura do poema, já me dá a certeza que você gostou. Isso me basta! Essa atitude é o maior agradecimento para uma escritora. Eu também te amo absurdamente, gigantescamente, minha Karlota! Beijão!

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