Depois
de alguns anos de ter deixado o passado no passado, o tempo aprontou suas
travessuras e trouxe o passado para o meu presente. Em um momento de extrema
euforia, pela realização de um projeto engavetado há tempos, decidi que deveria
comemorar essa alegria com parentes e amigos. Como Maciel é inquestionavelmente
importante em minha vida, decidi convidá-lo.
Por diversas vezes, peguei o celular
antes de conseguir obter a coragem necessária para falar com ele. Um detalhe
importante é que eu tinha perdido o celular e não procurei recuperar meu
número, simplesmente comprei outro chip e Maciel não tinha noção do meu novo
contato. Quando a minha coragem deu o ar da sua graça, liguei.
-Alô!?
-Bom dia, Maciel! Será que ainda lembras
de mim?
-Quem fala?
-Hanna! Aquela que por diversas vezes te
negou e que dormiu contigo separada por uma muralha de travesseiros. Lembra?
-Menina! Quanto tempo, hein? Claro que
lembro, você me deixou marcas profundas, sempre lembro de você.
Fiquei desconfiada. Será que ele
lembrava mesmo? Fazia um bom tempo que havíamos perdido o contato.
-Maciel, tem certeza que lembras mesmo
de mim?
-Quer provas?
O
camarada falou detalhes de conversas que tivemos há anos, fiquei impressionada!
Ao ter a certeza da lembrança, revelei o
real motivo que me fez ligá-lo depois de tanto tempo:
-O negócio é o seguinte: Passo por um
momento de felicidade intensa e preciso ter por perto pessoas especiais para
comemorarem comigo. Será algo bem simples, mas eu gostaria muito que você
viesse porque você foi e continua sendo muito importante para mim. Posso nutrir
dentro de mim a esperança de que você virá?
-Claro! Marque o dia e me avise com uma
certa antecedência para que eu desmarque todos os compromissos da minha agenda.
Estou orgulhoso, sabia? Parabéns!
-Obrigada! Se você não vier, minha
felicidade não será completa.
-Nem pense nisso! Estarei aí. Sim, me
fale mais, como está sua vida?
-Está tudo bem por aqui...
-Olhe, você me fez um convite, agora
chegou o momento de eu fazer o meu. Repito o que sempre falei para você: Quando
quiser sair, passear, basta me ligar que eu vou te buscar. Falo assim na
amizade, tá? Sei que você me vê apenas como amigo.
-Eu não sei se você acredita em
coincidências, mas amanhã eu estarei bem perto da tua cidade, quer dizer, não
tão perto, mas, a distância que nos separa, amanhã estará pela metade. Preciso
resolver uma questão por estes lados...
-Sério? Vou te buscar! Vamos marcar um
horário?
-Chegarei por lá aproximadamente ao
meio-dia.
-Até amanhã, menina.
-Até!
Ao meio-dia do dia seguinte, aconteceu o
nosso reencontro. Nossos sorrisos se cumprimentaram. Entrei no carro e dei um
cheiro nele.
-Hanna, você continua linda.
-Você também.
-Que nada! Os meus cabelos estão cada
dia mais brancos.
-Esses cabelos grisalhos, que ficam cada
vez mais brancos me fascinam. Pode ficar certo disso. Não gosto de garotões.
Um sorriso discreto mas muito confiante
surgiu no rosto dele.
-Menina, você não tem noção pra onde vou
te levar. Olha, desde ontem que penso em lugares especiais para te mostrar.
Vamos almoçar primeiro em um lugar bem aconchegante e depois vou te levar em
uma praia muito bonita.
Fomos almoçar, escutamos boas músicas,
colocamos o papo em dia. Maciel, demonstrava por todo o tempo sentir o mesmo
desejo que sentia por mim no passado. Mas ele continuava com todo aquele
cuidado comigo, já tinha tido provas mais que suficientes que eu só ficaria com
ele se realmente quisesse isso. O que ele não desconfiava, era que dessa vez,
eu queria ele. E eu estava bem convicta quanto a isto. Depois do almoço, ele me
convidou novamente:
-Vamos para a praia que te falei?
Um detalhe no mínimo curioso, era que o
restaurante se localizava em uma praia. Me questionava: “Se estamos em uma
praia, pra quê vamos para outra?”. Mas, lá fomos nós.
Ele me perguntou:
-O que trouxe nessa sua bolsa?
-De tudo um pouco. Carrego na bolsa um kit
básico de sobrevivência feminina.
-Tem biquíni?
-Não.
-Você acabou de dizer que tem um kit de
sobrevivência aí dentro e não tem um biquíni?
-Mas eu não preciso de um biquíni para
sobreviver.
Quando nos aproximávamos da praia, ele foi
todo cauteloso me preparando:
-Olha, esta praia que estou te levando não é
de nudismo, mas quem vem pra cá, toma banho pelado.
-Como é a história? Não é praia de nudismo,
mas o povo toma banho nu? Que coisa mais sem lógica!
-Deixa eu te explicar: É porque ela é uma
praia deserta, então as pessoas que a frequentam, se sentem à vontade para
ficarem sem roupas de banho. Outra razão para que isto aconteça é porque ela é
muito visitada por gringos e eles são famosos por tomarem banho de mar assim,
peladões.
Nesse instante avistamos uma pessoa na praia.
Maciel me disse:
-Observe aquela mulher lá, já está fazendo
topless, daqui a pouco ela tira a calcinha. Tá vendo que ela está sem sutiã?
Dei uma gargalhada daquelas e ele ficou sem
entender:
-Você está rindo porque viu uma mulher nua?
-Não, criatura! Estou rindo com a tua
besteira. Não é uma mulher, é um homem! Só que ele tem um cabelão bem ao estilo
Humberto Gessinger. Faz quanto tempo que você não vai a um oftalmologista,
hein?
Sorrindo ele me disse que depois de uma
dessas, realmente precisava de uma consulta com urgência. Depois disso, ele
direcionou o carro por um caminho de difícil acesso, com muitos matos,
espinhos, e ainda falou para o carro (achei o máximo isto!): “Me desculpe meu
amigo, hoje você vai ser arranhado, mas esta menina merece conhecer o que tenho
para mostrar para ela”.
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Praia de São Miguel dos Milagres, Alagoas, Brasil. |
Chegamos. A praia realmente tem uma beleza
única, a mais bela que tive o privilégio de conhecer (São Miguel dos Milagres,
Alagoas). Sentamos na areia e ficamos filosofando a vida. Acredito intimamente
que Maciel não suspeitava o que aconteceria. O papo era inocente, falávamos da
vida marinha, da beleza da praia, do pôr do Sol de lá que ele me garantiu que
era belíssimo, e que justamente por esta razão tinha me levado lá. Julguei que
aquele era o momento de cumprir a minha palavra. Na última vez que estive com
Maciel, prometi que se algum dia quisesse namorá-lo, chegaria quando ele menos
esperasse e de uma forma surpreendente. Ele estava todo empolgado com a
conversa quando eu decidi interrompê-lo:
-Maciel, a hora está avançando, daqui a pouco
escurece, vai fazer frio e eu quero tomar um banho de mar antes disso. Vamos?
-Mas você me disse que não trouxe biquíni,
sei que você é bem capaz de entrar no mar com essa calça jeans, mas é
desconfortável demais. Tem certeza que quer mesmo mergulhar assim?
-Claro que quero mergulhar! É um crime
inafiançável conhecer esta praia e não banhar-se nela. Quanto ao biquíni e ao
jeans, surgiu uma dúvida: Não foi você mesmo que me falou que nesta praia não
se usa nenhum tipo de traje? Pra quê então discutir o modo como vou entrar no
mar?
Com a maior naturalidade que se possa
imaginar, eu me levantei, fui a caminho do mar e durante o meu trajeto, fui
tirando peça por peça da roupa que me vestia e jogando na areia, até ficar sem
nada.
Sinto muito, mas não tenho palavras para
descrever a cara, a reação, a incredulidade e a surpresa de Maciel. Com muita
vontade de rir, mas mantendo a seriedade, olhei pra trás, ele continuava sentado
na areia me observando, chamei-o:
-Vem não? Vai me deixar tomar banho sozinha?
Mergulhei, e tenho o fôlego bom até demais.
Quando resolvi voltar à superfície, percebi que eu estava numa profundidade que
não dava pé e Maciel estava entrando no mar. Chamei-o novamente. Ele me disse:
-Está de sacanagem comigo, né? Você sabe que
eu não sei nadar, vai para o fundo e me chama? Acho bom você vir pra junto de
mim agora, ou então, mesmo sem saber nadar, farei um esforço de chegar aí, e
você corre o risco de ter que me salvar.
Mergulhei de novo e só reapareci bem na
frente dele. Eu o beijei.
Fomos para o raso, água na altura dos
joelhos. Não havia ninguém além de nós, praia deserta mesmo. Eu o dominei e
muito interessante era a reação dele. Ali no mar eu me realizei, alcancei meus
objetivos e ao perceber isso, ele me disse:
-Hora de parar tudo! Saia de junto de mim.
-Por quê? Você está cheio de gás ainda.
-Eu sei, mas só vamos poder terminar em casa,
saia de junto de mim.
-Mas por quê?
-Olhe pra trás! Tem no mínimo uns dez caras
te observando. Eles estão tão cheios de gás quanto eu, sentindo prazer também,
só que de maneira solitária. Estão te desejando, estão também morrendo de inveja
de mim porque presenciaram toda a tua intensidade. Saia de junto de mim, nossas
roupas estão na areia e a única maneira de eles saírem daqui é quando tiverem a
certeza que o show acabou. Quando o show acaba, a plateia vai embora. Deixe
eles pensarem que tudo acabou e quando eles se forem, te levo pra minha casa,
lá não teremos plateia.
Me distanciei e rapidamente os curiosos de
plantão foram embora. Maciel pegou minha roupa, me vesti, e fomos pra casa.
Questionei:
-Não tinha ninguém quando chegamos à praia,
como foi que rapidamente apareceram tantos homens?
-Certamente foi o carro estacionado que
chamou a atenção deles. São nativos. Sabem que carro parado em praia deserta é
sinônimo de casal se amando. São tarados, vivem a procurar momentos como este.
Outra coisa, eu até os entendo.
-Como assim?
É tão natural um casal se amar na praia, por
mais que queiram disfarçar, que os movimentos sejam leves para não chamar a
atenção de ninguém, sempre se sabe quando eles estão em um namoro mais íntimo.
Mas quando isso acontece, quem está de fora observando, consegue manter a
discrição, até olha para o casal, mas não fixa o olhar porque percebe que eles
não querem ser notados. Acontece que nós estávamos no raso, completamente nus,
e você estava fazendo o excelente uso de uma sensualidade ímpar. Qual é o homem
que vendo cenas desse tipo consegue disfarçar o olhar? É impossível! Hanna,
você foi perfeita!
-Não precisa vir com discursos masculinos
para o meu lado e dizer pra mim tudo aquilo que você diz para outras mulheres.
-E quem disse para você que digo isso para
outras? Não discuta comigo, você é deliciosa e quem entende de mulher aqui sou
eu. É deliciosa, pronto e acabou-se! E por falar em delícias, vamos terminar o
que começamos na praia, eu continuo com gosto de gás!
-Vamos! Mas faremos diferente. Na praia, não
te dei muita chance de defesa. Agora, quero que me fale como queres.
-Sim, concordo que na praia você tenha me
deixado sem ação, foi muito surpreendente como você conduziu tudo. A partir de
hoje, não posso mais te chamar de menina. Eu estava enganado, de menina você
não tem nada! Você me mostrou como é intimamente, agora chegou a minha vez, me
deixe “trabalhar”.
-Maravilha, vou tentar ficar quietinha, na
praia tivemos plateia, aqui, a tua plateia serei eu. Vamos, comece logo! Estou
curiosa.
Maciel realmente tem palavra. Não brincou. Na
casa dele, na mesma cama que há anos dormimos separados por uma muralha de
travesseiros, tempos depois, de tão próximos, fomos um. Naquele momento, diante
de toda a sua experiência, me senti uma menina, inexperiente. Com muita
frequência, eu pedia:
-Pare!
-Por que quer que eu pare? Não está
gostando?
-O problema é justamente o inverso disso,
estou gostando demais.
Ele foi muito intenso, por todo o tempo.
Me deixou exausta. Quando eu já estava quase dormindo, ele perguntou:
-Se estava gostando, por que me pediu
tantas vezes para que eu parasse?
-Porque você estava me enlouquecendo de
tanto prazer.
-E você acha isso ruim? Eu estava
fazendo o básico dos básicos quando você me suplicava uma parada.
-O básico dos básicos com muita
perfeição. Entenda: Todos os homens fazem as mesmas coisas. A diferença está no
modo de fazer essas mesmas coisas. O seu básico é feito de uma maneira
deliciosa, muito diferente do básico dos outros. Tentando definir melhor, você
fez um “básico-avançado”. Queria que parasse para que o meu momento de prazer pudesse
ser prolongado. Você foi tão maravilhoso que posso até não aparentar, mas estou
com muita raiva de você.
-Te dei motivo pra isso?
-Todos! Você deveria ter tentado, ter me
seduzido de alguma maneira naquela noite que dormi contigo entre travesseiros.
Se você tivesse sido intenso como foi hoje, não teríamos nos perdido por esses
anos.
-Se eu tentar entender as mulheres, vou
acabar doido! Naquela época você quase me bateu porque eu encostei minha boca
na tua enquanto você dormia no sofá. E hoje você me fala que eu deveria ter te
seduzido? Você foi tão convicta que me queria apenas como amigo, que hoje na
praia, se você não tivesse tirado a roupa e me chamado, eu não teria encostado
em você.
-Apenas cumpri minha palavra. Lembra que
eu te disse que se algum dia quisesse namorá-lo, chegaria de uma maneira que te
surpreenderia?
-Surpreendeu mesmo. Nunca imaginei que
você fosse capaz de tamanha sensualidade. Sempre muito recatada, só usa roupas
compostas, aparentemente uma mulher muito tímida, uma dama da sociedade.
Dessa maneira nos reencontramos.
Intensidade maior que essa, nunca provei. E o tempo que a tudo responde, me
provou que Maciel caiu em mim (como um raio), no mesmo lugar duas vezes! E
três, quatro... incontáveis vezes! Contradizendo assim o ditado popular, e como
cumpridor de palavras: me faz muito feliz!
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